Gestos Transformadores

Por Angela Porto, Psicanalista

Atelier Eymard Brandão

O que a psicanálise colocou em seu centro, a arte tem no seu início, no que a antecede e no seu final e o expõe: um vazio.

A arte caracteriza-se por um certo modo de organização em torno do vazio. De um vazio-causa que pulsa, que insiste, que exige trabalho, que faz dos resíduos, matéria prima, o artista, na sua criação, transforma os objetos em “outra coisa”, desvirtua-os, fazendo-os surgir na dimensão de uma outra dignidade.

O objeto artístico é instaurado na relação com este vazio, presentificando-o, enquanto tenta fazer-lhe borda, retornando ao artista, do seu gesto-sujeito, singular, como estranhamento, deixando correr os seus efeitos.

Derramados da obra ao público, intencionais ou não, os efeitos do trabalho de Eymard Brandão, em “Arte em resíduos”, conduzem do belo à inquietação do mais além dele.

Há uma ferida exposta, não “curada”, que a arte mantém aberta, enquanto enlace com o real, ao apresentar os “refugos” da sociedade industrializada, que esta mesma sociedade tenta desconhecer.

Cumpre-se aqui o que faz do objeto uma obra. A arte sustenta o desejo e abre vias a outros gestos transformadores.